A sensação de não pertencimento era uma constante. Há um ano, aos 38 anos, recebi meu diagnóstico de autismo.

E aí tudo passou a fazer sentido: minha dificuldade em socializar e me comunicar, minha necessidade de rotina e previsibilidade, o fato de eu entender o mundo de uma forma diferente das outras pessoas, minha extrema dificuldade em criar laços e conexões, minha exaustão constante e as tantas vezes que eu simplesmente ficava não verbal.

O diagnóstico (acompanhado de terapia e tratamento adequados) mudou a minha vida. Fez eu me conhecer mais, me entender mais, me fez aceitar que nunca vou ser igual aos outros e que não preciso me encaixar para ser feliz.

Me fez aprender sobre meus limites e como respeitá-los. Me fez entender que não preciso me esforçar para me adaptar aos outros, supostos “amigos” que claramente não faziam questão da minha companhia.

Entendi e aceitei que nunca vou me encaixar num círculo social típico e está tudo bem, porque na verdade, eu nunca realmente fiz questão disso.

Esse fim de semana consegui ir a um show da maravilhosa Liniker. Poder assistir pessoalmente sua artista favorita é uma conquista que pessoas típicas não vão entender.

Passei uma vida sem conseguir fazer coisas que para os outros são simples, prazerosas e corriqueiras. Hoje, com o diagnóstico e conhecimento, fui capaz de ir a um show, ficando no espaço reservado para PCDs, utilizando meu fone com cancelamento de ruído e óculos escuros para proteger meus olhos da dor que as luzes causam.

É por isso que acessibilidade e inclusão são tão importantes. Como pessoa neurodivergente, eu nunca conseguiria viver essa experiência como as pessoas neurotípicas vivem. Mas com algumas adaptações, dentro dos meus limites, consegui viver algo que antes era impossível.

E, como Deus, o universo, ou seja lá qual for a crença de cada um, foi muito generoso comigo, vivo essas novas descobertas ao lado da minha melhor amiga, que também é o meu amor, minha esposa, dona do meu coração e a mulher por quem viver vale a pena.

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